quarta-feira, 15 de agosto de 2012

18

Tínhamo-nos deitado já bem tarde, afinal aquele dia era sempre de festa.


O deitar já não foi igual, havia um “mal-estar”, algo que “incomodava”, mas mesmo assim, com calma e tentando que o agitado do dia fosse ultrapassado, lá nos deitamos.

Começou a meio da noite.

- O que se passa? Perguntei ensonado.

- Acho que me rebentaram as aguas… não consigo parar de fazer xixi…

Foi como se tivesse bebido 10 cafés seguidos e num só golo.

- Vamos já embora para o Hospital.

- Mas temos de avisar os meus pais e os teus pais e os…

- Depois logo lhes ligamos.

- Calma, temos tempo, não é assim tão rápido, liga lá e depois vamos embora.

Foi o que fiz.

Tínhamos na altura um carro emprestado, o nosso era um jipe o que nestas alturas não é nada aconselhável, parecia uma ambulância, buzinei, passei sinais vermelhos, eu sei lá quantos disparares mais, mas lá chegamos ao hospital.

- A mãe que entre e o pai que venha aqui fazer a inscrição.

Que diado, era a primeira vez que a ia deixar, que não estaria ao seu lado, começamos juntos e sempre caminhamos juntos, era novidade para ambos e aquilo não me parecia nada bem, mas lá fiz a inscrição.

Terminada esta parte fui, obviamente, ter com a enfermeira, expliquei a situação “é um caminho a dois”, mas estava irredutível, “não pode entrar. Pode aparecer mais alguém…”, lá fui argumentando da forma que melhor sei e podia e lá me deixaram vê-la “mas só 2 minutos...”

A verdade é que as nossas amigas R e P já lá estavam, ambas estavam a terminar medicina e sempre estava com alguém familiar. Fomos sabendo da evolução por elas.

O tempo foi passando entre rápidas escapadelas para um beijinho nervoso e a ansiedade de noticias “frescas” até que chegou a hora de almoço.

- Ó filho tens de comer? Vamos, ainda vai demorar, temos tempo.

- Mas não tenho fome… vão vocês.

Nesta altura já lá estava toda a família, não éramos os únicos a descobrir novas emoções.

Lá fui almoçar, eles eram muitos…

- Mas rápido que quero voltar para aqui depressa.

Fomos a um restaurante bem pequeno a cerca de 100 metros do epicentro. O prato do dia, sempre é mais rápido, e;

- Vamos embora que não sei de nada á muito tempo.

Ao chegar uma das nossas quase-médicas disse-me;

- Está quase, já tem a dilatação quase toda feita. A médica disse que agora é rápido.

- Serio? Posso entrar? Se é rápido e não está aqui ninguém…

- Já lhe disse que não pode entrar. Disse-me logo.

- Mas se é rápido e não há mais ninguém….

- Vou perguntar. Por favor espere aqui um bocadinho.

Não sei se foi mesmo só um bocadinho, a mim pareceu um bocadão, pareceu-me tempo suficiente para poder ir a lua e voltar.

Regressou com uma médica desconhecida até então.

- Ouça lá tem de ter calma. Já lhe disseram que não pode entrar.

Isto já me tinha sido dito várias vezes, mas nunca naqueles modos, Arrogante, prepotente e insensível é pouco para descrever a forma como falou.

Nervoso e a ser mal tratado foi o empurrão que necessitei para que, no exacto momento em que ouvi um grito parecido com tantos outros mas tão diferente, empurrasse a mal criada médica e a correr fosse rapidamente para o epicentro.

Cheguei na hora exacta, na que tantas vezes nos desejaram pequenina, assisti ao “milagre” do nascimento, não foi fácil, por lá havia uma qualquer complicação com o cordão, mas tudo se resolveu a bem e a B nasceu linda, adorada, amada e muito mas muito desejada.

Faz hoje 18 anos.

Parabéns filha linda. E acreditem ela é mesmo linda.
Feliz dia

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